No dia 21 de fevereiro do ano corrente fechei um ciclo. Depois de dois anos debruçada sobre o tema da fragmentação corporal, defendi minha dissertação de mestrado intitulada "A construção de um corpo aos pedaços".
A Instalação
A proposta de finalização deste
trabalho tratou-se de um espaço de exposição de algumas experiências resultantes
neste processo criativo que foram descritas separadamente no trabalho escrito e
reunidas em uma espécie de espaço instalativo, onde o tema desenvolvido estava
apresentado nos diferentes suportes nos quais foi experienciado. O corpo
fragmentado foi evidenciado em imagens impressas e projetadas e também em sua
presença física. Apresentados simultaneamente, esses fragmentos poéticos
compartilharam um espaço recortado propondo ao espectador um olhar fragmentado
pela impossibilidade de apreensão visual de um todo. O corpo que se quis
construir desde o início do processo foi continuamente destruído, reconstruído,
decomposto, recomposto e se apresentou fragmentado, quer por autonomia ou
dissociação.
A partir da ideia de autonomia, as partes do
corpo são tratadas como estruturas íntegras, independentes de um todo. Com a
ideia de dissociação, o corpo é reorganizado em sua estrutura, e suas partes
podem ser suprimidas, multiplicadas e deslocadas, afastando-o da imagem do
corpo humano como normalmente o conhecemos. Esses dois modos de compreender a
fragmentação foram percebidos nos trabalhos de alguns artistas, que, por
exemplo, dedicam maior atenção às partes, aproximando e detalhando pedaços do
corpo, ou enfocam a possibilidade de alteração da figura humana, em processos
de transformação de sua estrutura, trazendo à tona imagens de corpos ilusórios,
fantásticos.
Por não se tratar somente da criação de uma obra,
mas da composição de um trabalho acadêmico experiência prática e reflexão
teórica caminharam juntas. No decorrer desses dois anos, foram realizadas diversas experimentações que indicaram um caminho onde as ferramentas de composição das linguagens cênicas e visuais poderiam se entrelaçar e possibilitar um diálogo mais profundo, a fim de estabelecer uma relação verdadeiramente interdisciplinar entre as duas áreas postas em questão nesse trabalho, a Dança e as Artes Visuais. Perseguiu-se o tema da fragmentação corporal, alimentado por inúmeras referências imagéticas e conceituais, sendo a principal, a obra do artista alemão Hans Bellmer. Além dele, contou-se com uma vasta iconografia de trabalhos tanto Surrealistas quanto Contemporâneos, tendo em comum o fato de constituírem obras onde o corpo era apresentado fragmentado, distante de uma configuração reconhecível de um corpo humano.
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Algumas experiências realizadas neste processo criativo. |
Acredito que o processo criativo é acompanhado de um grande exercício de escuta e observação no qual o artista deve estar atento às escolhas que a própria obra faz e lhe impõe. Ao artista não resta apenas obedecer. Há que abrir o canal sensível de entendimento e comunhão com a obra a fim de deixá-la vir à tona a partir do meio mais propício para o seu transbordamento. Pois a arte, acontece nesses entre-lugares, onde as forças se
atraem, se repelem e por vezes se esbarram, criando cacos de possibilidades que
se arremessam sem direção carregando a potencialidade de sua concretização.
Apesar do grande leque de possibilidades que se abriu, entendo que o tema não se esgotou, por considerar que alguns resultados das experiências apontaram na direção de possíveis desdobramentos, não realizados. Por isso não se trata de um produto final, mas provisório. Inacabado como acredita-se o próprio corpo...
Apesar do grande leque de possibilidades que se abriu, entendo que o tema não se esgotou, por considerar que alguns resultados das experiências apontaram na direção de possíveis desdobramentos, não realizados. Por isso não se trata de um produto final, mas provisório. Inacabado como acredita-se o próprio corpo...