Sempre que começo a me interessar por um determinado
assunto, já sei que é meu filtro perceptivo me indicando o caminho de um novo
processo de criação ou talvez, novos estímulos dando continuidade aos processos
inacabados.
Recorro à Cecília Almeida Salles e seu livro O gesto
inacabado, que sempre me sussurra sugestões e sublinha repetidamente questões
relevantes sobre os processos de criação artística, me acalma reproduzindo as
falas de artistas, me renova o frescor da descoberta.
Por um pouco mais de dois anos me debrucei sobre a
obra de um artista alemão incrível que iluminou minha imaginação e revelou em
meu corpo a potência do inacabado. Hans Bellmer me alimentou imagética e
conceitualmente e me fez mergulhar em um universo pessoalmente estranho, por vezes
difícil de acessar.
Após percorrer os corpos inanimados de suas bonecas,
me encontro, agora, flertando com um corpo de maiores proporções que vive,
respira e se move como eu. Persigo obsessivamente as árvores que encontro pelo
caminho, como se a qualquer momento elas fossem criar pernas e fugir. O momento
da relação é aquele do encantamento, da descoberta do desconhecido, do tatear
cuidadosamente, da gentileza com essa que, no momento, tem dado asas à
continuidade de meu inacabamento.
Remexendo em álbuns de fotografias antigas, descobri
que minha curiosidade e admiração pelas árvores já vem de longa data. Pelos
lugares que percorri, elas sempre estiveram lá puxando meu olhar, me atraindo,
me chamando. Finalmente atendi e... vamos ver como continua essa conversa.
“O
inacabado se impõe, a ordem é incompleta e mutável. É um movimento em potencial
em direção à completude ou algo como a incerteza de futuro e a sugestão de
inúmeras possibilidades de prolongamento. O inacabado incita à exploração, à
descoberta.” (Paola Berenstein Jacques)
Referências Bibliográficas
JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas
através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
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