sábado, 3 de março de 2018

"O estranho é o outro?"






"O que nos é familiar pode parecer subitamente estranho. Nosso próprio corpo não pára de nos surpreender. Para mim, a experiência da alteridade começa em nós mesmos porque ela também é a descoberta de uma estranheza radical.
Meu corpo é habitado por outros corpos, ele é heterônimo. Sua aparente unidade se divide, pois sou sempre suscetível de me ver de uma maneira que não sou. E o olhar dos outros me incita a ver-me de modo diferente. Esse fenômeno de cissiparidade pode provocar distúrbios psíquicos, mas persiste como uma riqueza misteriosa do corpo.
A monstruosidade, a abjeção que os artistas e os escritores põem em cena nos revelam o quanto nosso corpo é capaz de exprimir o pior, segundo uma aparência puramente estética. Eles não mostram somente o outro de nós mesmos que não queremos ver mas sobretudo a aventura psíquica e orgânica do "corpo desmembrado". Tirando sua força de expressão do que é disforme, a arte dá forma à estranheza, mesmo a mais monstruosa, do corpo." Entrevista Henry-Pierre Jeudy


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